Era mais uma viagem de comboio. Como tantas outras. O ritmo metódico, o movimento das pessoas. Entradas e saídas. Virava sem interesse as páginas do suplemento de sexta-feira. Espreitava o mar pela janela. Que pena agora não podermos ver os carris. Antigamente, a primeira carruagem tinha um banco mesmo à frente. E os nossos olhos seguiam a viagem com outra perspectiva.
Até que um avô entra com a neta pela mão. Senta-se à minha frente, mas a neta não gosta de ir de costas. Na sua inocência de cinco anos, não hesita. "Eu quero ir ali", diz. E senta-se no colo da rapariga ao meu lado com um à vontade desarmante. O avô abre o jornal, descansado. Eu e a rapariga trocamos o olhar surpreendido por um sorriso mútuo. A criança, essa, comenta tudo o que vê através da janela com uma alegria contagiante. Num colo desassossegado que testaria a paciência de qualquer um. Às vezes, não é preciso muito para voltarmos a ter um sorriso. Desta vez... a pequena Cris deu uma ajuda.
18 novembro 2006
Strangers on a train
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8 comentários:
Acontecem sempre situações engraçadas no comboio. Quando vivia em Paris fazia 2 horas por dia de viagem em comboio, e admito que, apesar de ser muito tempo diário "perdido", gostava muito destes momentos - olhar para os outros, ouvir as conversas, ler, dormir... (nostalgia)
Bela invocação!
«Comboio», «mar», «antigamente», «primeira carruagem», «banco mesmo à frente», «ver os carris». Tudo isto me transporta imediata e instintivamente para uma coordenada espacial que tão bem conheço: a linha de comboio Cascais-Lisboa, que já percorro há largos anos...
Já não pensava nisto há muito tempo, mas este teu texto fez-me relembrar aquelas velhas carruagens, quase saídas de um filme a preto e branco (como o «Strangers on a Train»). E como eu gostava daquele «banco mesmo à frente», onde se podia sentir a linha debaixo de nós e onde a sensação de viagem ganhava outra dimensão...
Não sei se o episódio que contas se passou na dita linha Cascais-Lisboa, mas sei que o teu texto também me fez sorrir...
Nuno - lamento muitas vezes o tempo que perco. Mas reconheço também alguma vantagem nestas viagens diárias, como ler, observar...
João - é exactamente essa linha, que também me acompanha há vários anos.
Tenho saudades dos comboios antigos. Quando havia esse banco, quando os outros bancos podiam mudar de posição e até quando os bancos podiam ser vermelhos, azuis, ou castanhos...
Blues,
- Trabalhas com imagem em movimento?
Não, porquê?
Pensava mais, montagem.. por exemplo..
...foi um pensamento.
Talvez pela forma como seleccionas as imagens.
Bem, já fiz alguns trabalhos, quando andava na faculdade e gostava muito.
Mas não trabalho com imagem profisionalmente ;)
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